quarta-feira, 31 de outubro de 2012


BUTTERFLY





"My soul is painted like the wings of butterflies"
Assim sinto eu a minha alma.
Livre e Colorida.
Presa num corpo a preto e branco.
Ainda não aprendeu a voar.
Medo da inexperiência do primeiro voo.
Medo de cair.
O coração bate a um ritmo acelerado sempre que ela sonha.
De longe observa as reacções do corpo a cada ímpeto de liberdade.
Livre.
Sem destino.
Prazer de sentir o azul do céu como limite.
Que faço eu agora?
Deixo-a partir?
Aventurar-se num voo...
E se não regressa?
E se a deixo neste cativeiro?
Nesta liberdade agrilhoada?
Cristina Vaz
 
 
PRETO
 
 


Luto.
Perda.
Tristeza.
Vazio.
O lado lunar de cada um de nós.
Uma cor carregada de dor. Pesada.
O abismo. O precípicio. O caos.
Existem momentos na nossa vida em que o preto é incontornável.
Faz parte, assim como a morte.
O túnel escuro no qual por vezes caimos
Do qual não sabemos se regressamos.
Há quem viva com um negro entranhado no corpo.
E aqueles que optam por te-lo apenas como um hóspede passageiro.
A quem dão guarida mas que anseiam que parta ligeiro e sem deixar mazelas.
Não é fácil resistir ao seu charme.
Assim como a lua quase que nos enfeitiça
E se nos descuidamos não o conseguimos mandar embora.
A opção é nossa.
Mas no fim existe sempre uma luz.
Mesmo que não a queiramos ver.
Cristina Vaz

terça-feira, 30 de outubro de 2012

 
A OUTRA METADE DE MIM
 
 



Anseio numa espera tardia
Esse dia
Dia em que te verei pela primeira vez
Dia em que o meu olhar e o teu
Se tocarão
Alma dentro
Como que adivinhando
Que nunca mais nos iremos largar.
E saberemos apenas pelo olhar
que a procura terminou
Seremos cumplices
Melhores amigos
Almas gémeas
Veremos juntos o por-do-sol
Iremos rir até à exaustão
Choraremos copiosamente
Juntos vida fora
Partilhando emoções
Coração agitado
Inquieto
Conto as horas
Os dias
Até ao momento em que os meus lábios
Beijarão os teus pela primeira vez
E nesse beijo saberei que valeu a pena a espera
Que encontrei em ti
A outra metade de mim.
Cristina Vaz
FAROL


Nada será em vão
Heroi ou vilão
De quem será a decisão?
E o percurso a seguir?
Insistir, persistir e nunca desistir.
Labirintos, ratoeiras
Há que ser perspicaz, tenaz
Enganar o destino
Ser um bom menino
E se nos perdermos a meio?
E se o caminho não for divino?
Se for arduo, penoso?
Não. Não ficamos rancorosos.
Seguimos em frente.
A linha terá um fim
E iremos conseguir
Basta acreditar
Que valerá sempre a pena
E quando avistar-mos o farol
Diremos simplesmente:
SOL!
Cristina Vaz

segunda-feira, 29 de outubro de 2012




(A)MAR

Perdi o meu olhar
Durante longos dias
No azul do mar
Naquela amálgama de azul
Mar e céu
Confudivéis
Na linha do horizonte
O Mar tem impregnado em sí
A tristeza de todos aqueles
que lá se perderam
Mas também a beleza da vida
O som das gaivotas como pano de fundo
A paz interior que sentimos
Sempre que fechamos os olhos
E deixamos que o SOL
Nos invada.
O intenso sabor de nos sentirmos perdidos
No meio de uma multidão de gente
Estranha
Que se entranha em nós
E nos faz sentir parte do quadro.
Hibrido este meu sentir
Mas verdadeiro.
Mar
Amar
Ficar
Querer ir embora.
Cristina Vaz.



INCONSTANTE



Mas por que raio sou eu assim?
Inconstante
Imperfeita
Incompleta
Assim me sinto
A cada instante
Maré cheia
Maré rasa
Gaivota perdida
Alma encontrada
Grito altivo
Silêncio que fica
Palavras a menos
Onde tudo foi dito
Letargia,
vazio lotado
Sufoco
Respiro
Tristeza
Alegria
Assim sou
Constantemente
Inconstante!
Cristina Vaz

domingo, 28 de outubro de 2012

BOLAS DE SABÃO
 
 




Ninguém é feliz 24 horas por dia.
Impossivel seria...
Onde ficariam os dias não?
As birras
Os dias de luto, de perda?
Os dias de medo?
E existem
E com eles ficamos tristes.
Aprendi que a felicidade se constroi
Em pedacinhos
Em fragmentos
Em momentos!
O simples sonhar acordado
O saborear um gelado
O sol de uma manhã de Outono
O vencer um dia enfadonho
O apoio de um amigo
que nos estende a mão
O olhar de uma criança
A sua emoção
No seu pequeno coração
ao ver no ar uma simples
Bola de sabão.
Cristina Vaz

sábado, 27 de outubro de 2012

NÁUFRAGA


 



Dei por mim perdida
Em pleno mar alto
Num pequeno barco à vela
Náufraga de mim própria.
De onde parei apenas havia
mar, mar e um céu que me fugia.
Tinha o silêncio por companhia
Sentia frio.
De lá via ao longe terra firme.
Via uns vultos.
Eram os meus filhos.
Só podiam
Brincavam na areia.
Tudo estava calmo.
Tudo permanecia.
E eu ali.
Ali jazia.
Mas nada temia.
Pois sabia que por lá
Por lá
Tudo acalmaria.
E eu
Eu a ninguém faltaria.
Acordei.
Foi apenas um sonho mau.
Cristina Vaz

 
 
TRANSPARÊNCIAS
 



Gosto da analogia entre mim e uma luz de presença.
Daquelas luzes suaves
Cuja finalidade é essa.
Estarem presentes.
Daquelas luzes que à primeira vista
e à luz do dia
permanecem quase que transparentes
Imperceptivéis a um olhar menos atento.
Deste modo consigo observar-te
Sem que tu me vejas
No meio de uma multidão desenfreada
Sem te ofuscar
Sem que repares sequer em mim.
Daqui consigo observar todos
que por mim passam
E como passa gente
Apressada
Numa correria
Sem tempo a perder.
Nem reparam que aqui estou.
Luz de presença.
Pequenina.
Se um dia precisares de mim
Deixarei de ser transparente aos teus olhos
E nesse dia irás perceber
Que sempre aqui estive
Apenas não me vias.
Cristina Vaz

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

OBSERVANDO-TE




Perco dias observando-te.
Cuidadosamente.
Silenciosamente.
Minuciosamente.
Observando-te me perco
nesse teu olhar penetrante
e contigo embarco numa viagem
a um mundo só nosso
Em que se confunde a minha e a tua pele
Em que já não sei mais
onde terminas e eu começo.
Observando-te já nada mais importa.
Esqueço que existe o dia e a noite.
Esqueço se existe o frio e o quente.
Já não importam.

Porque observando-te me perco
E a minha alma encontro
Porque observando-te me vejo
Em ti reflectida!
Cristina Vaz

 
 
VIDA(S)
 

Ainda não percebi o que se passou comigo.
Há umas décadas atrás era tudo tão diferente.
Fui feliz.
Era bonita.
Casei.
Tive dois filhos.
Objectivos.
Sentia que a vida fazia sentido.
Mas o tempo foi passando.
Também passou por mim.
Envelheci.
Hoje ninguém olha para mim.
Não como olhavam outrora.
O cabelo ficou grissalho.
O corpo amarrotado.
A minha cara...
Já ninguém me chama de menina
Como faziam....
Agora sou apenas a velha.
Os meus filhos casaram.
Tiveram os seus filhos.
Não têm tempo...
Deixaram-me aqui.
Nesta ante-câmara da morte
Junto a estranhos
que comigo partilham
o abandono
A solidão.
Todos os dias agora são iguais.
Sento-me aqui
diante desta janela
Onde aguardo uma visita.
As horas sinto-as
Como uma faca que vai perfurando lentamente
o meu corpo débil
Sangro
Ninguém vem
E eu espero....
Mas porque me abandonaram aqui?
Eu amo-vos tanto.
Terei feito algo de errado?
Ou foi apenas porque o tempo passou por mim?
Cristina Vaz

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Exercises in Free Love


 
 
ANJO
 



Hoje encontrei um anjo no meu caminho.
Não era como o tinha idealizado.
Não tinha auréola dourada
Nem costas cobertas daquela plumagem branca.
Era como tu.
Como eu.
Mortal.
Banal.
Olhou-me como nunca ninguém me olhara antes
Trespassando-me o corpo
Desnudando-me a alma.
Sorriu-me.
Estendeu-me a mão.
Deixou-me umas palavras escritas:
"Não desistas de ti.
Esquece essas nuvens negras que te atormentam.
O SOL está lá.
Mesmo que de quando em vez não o vejas.
Sente.
Sê forte."
Lembrou-me a efemeridade da vida
e relembrou-me que vale a pena.
No fim abraçou-me.
Um abraço mudo
Onde cabia o mundo.
Fechei os olhos impulsivamente.
Aí percebi quem ele era.
Já era tarde.
Foi embora.
Como te chamas? Ainda balbuciei....
Obrigada.
Cristina Vaz
VERMELHOS
 




Conheci uma senhora que me marcou por ser uma pessoa fria.
Fria da cor do gelo.
Parecia que nada a abalaria.
Que não sofria.
Que não sentia.
Só tinha uma preocupação que a inquietaria
A sua figura.
Os seus lábios vermelhos.
De um vermelho intenso
Contrastando com o incolor da sua vida.
Com a ausência de vermelho do seu coração.
Todos os dias mal acordava
Os seus lábios pintava.
Passava o dia nisto.
Dia após dia.
Batôn atrás de batôn.
Podia o mundo acabar
Mas os lábios tinha que pintar.
O tempo passou.
Enviuvou...
Sozinha ficou.
Na verdade acho que nunca amou.
Foi ficando sozinha
Tendo o batôn por única companhia.
Um dia fui visita-la.
Parecia desfigurada.
Sem cor.
Cinzenta.
Agora ainda mais fria.
Tinha decidido deixar de viver.
Já mais nada importava.
Percebi isso mal a vi.
Os lábios?
Já não os pintava
Estavam como sempre foram
Sem cor
Frios.
Vazios....
Como toda a sua vida.
Cristina Vaz
 
A MINHA ESTRELA
 
 



Quando parte fisicamente alguém que nós amamos
A forma que encontramos de minimizar a dor
E suportar a perda
É aceitar que esse ser partiu para um sitio melhor
E que algures no céu
Está agora uma estrelinha que brilha mais que as restantes
Porque é nossa
Eu já lá tenho a minha estrela.
Sei que aqui me amou como ninguém
Educou-me
Foi ela que me ensinou a ver as estrelas...
Que me ensinou a magia de uma noite de luar
Que me contava os contos antes de adormecer
(Queres que te conte ou que te diga?
E passava minutos nisto até que se deixava dormir
E eu sorria de felicidade)
Minha cumplice
Minha amiga
Hoje sou eu que a procura nas estrelas
Não duvido quando sinto o seu brilho
Como se aqui estivesse comigo
Com o seu abraço único
Sei que estou protegida
E que brilhará sempre para mim
Até nos reencontramos novamente
E lhe dizer:
Amo-te Vó.
Cristina Vaz

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

ERRANTE




Continuo este caminho
Sigo sem saber onde me leva
Sem questionar
Sem pensar em demasia.
Sei que não posso descansar
Mesmo que a maré fique bravia.
Mesmo que o corpo fraqueje
Se canse, desanime
É a alma quem insiste:
Em frente..
Não tenhas medo.
Resiste.
Agora já nada me detém.
Encontro espinhos,agruras,desalento
Mas o reverso também lá está
Se souber dar tempo ao tempo.
Escolherei o caminho certo
Saberei encontra-lo?
Não sei
Mas que se dane
A minha alma é soberana
Eu?
Sou apenas sua errante.
Nada importante.
Cristina Vaz

GRITO MUDO




Não consigo respirar.
Abre-me as janelas.
Deixa entrar o ar.
Sinto a brisa que me arrefece o corpo...
Mas este aperto que não passa.
Vontade de arrancar este coração
Vontade de gritar
Um grito mudo
Que me atormenta a espera
Que me silencia a alma
Que me anestesia o corpo.
Sinto-me a perder as forças
A vontade de pintar o mundo de cor
Não.
Não me digas nada.
Não quero saber.
Ouve-me tu a mim...
Sem que te diga uma palavra.
Tenta entender o meu olhar
Sem que me vejas.
Abraça-me sem te pedir...
Não percebes?
Esgotei as palavras.
Preciso descansar.
Cristina Vaz

terça-feira, 23 de outubro de 2012

EU




Cristina Isabel
Quase com quatro décadas de vida em cima
De um corpo
De uma alma.
De histórias
De passagens
De horizontes
De vidas.
Afinal quem sou eu?
Que faço eu aqui?
Sou uma menina que se recusa a crescer.
Que tenta esquecer o mundo dos adultos
E se refugia num mundo de faz de conta
Que partilha com outra parte de si.
Aquela em que representa o maior papel da sua vida
Mãe
Aqui nasce a leoa que desconhecia em mim
Que luta pelas crias
Que não se cansa
Que está presente.
Depois existe a irmã, a tia, a prima
A amiga
Finalmente existe o Eu
E é este Eu que deixo para o fim
A parte de mim solitária
Que não "pertence" a ninguém
A menos importante
É nesta parte
que me perco em labirintos interrogacionais
Que questiono
Que sonho.
Felizmente as outras partes de mim
absorvem esta infima parte
Não lhe dando grande margem de manobra
É neste Eu que escrevo.
É neste eu
Que ainda não descobri
Quem sou...
E o que faço aqui.
Cristina Vaz
 
A NOSSA HISTÓRIA
 



Vamos inventar a nossa história?
Pedaços de sonho
Pedaços de loucura
Um pouco de razão à mistura...
Sol, mar e céu
Será a nossa aventura.
Juntos vamos conseguir
Uma história cativante
Daquelas em que apeteça também entrar
Daquelas que fazem vibrar.
Voar...
Terá um pouco de bom e de mau
Pois tudo tem o seu reverso
Neste confuso Universo.
Mas no final saberemos
que cada cena fez sentido
Nenhum afecto ficou perdido
Foi tudo consentido
Nada foi em vão.
O passado já passou.
O presente é agora.
O futuro?
Pode ser a nossa história.
Cristina Vaz
SONHAR
 


Sonhos Recheados
Sonhos Dormentes
Sonhos Presentes
Sonhos Ausentes
Sonhos Coloridos
Sonhos Doridos
Sonhos...
Será que um dia acordamos e...
Nada...
Deixamos de os ter?
Uma mutilação
Ao compasso do envelhecer do corpo
Gradual e letal
Será?
Será que um dia a nossa memória
deixa de ter memórias?
Onde guardarei os croquis dos meus castelos de areia
Se assim for?
Ou será que ao invés
Até ao ultimo dia
o Sonho insiste
Persiste
Não desiste de nós
Indiferente ao corpo a que está preso?
Não sei...
Sei que gostava de continuar a sonhar
Pois é o sonho que nos guia
Que atenua a realidade
Por vezes fria
E nos aquece a alma.
Essa eu sei
Não envelhece
Vou continuar a sonhar
Até a tal Luz chegar e me levar.
Decidido.
Cristina Vaz

segunda-feira, 22 de outubro de 2012


REAL



Por vezes perco-me no meio dos meus sonhos
Por labirintos coloridos
Que me chamam
Me atraiem como um íman
Seduzem
Aliciam
Fazendo com que queria ficar por lá
Perdida no meio de tanta cor
Esquecendo-me que existe o cinzento dos dias
O negro das perdas
O frio das gentes
Talvez por isso sonhe cada dia mais
Um sonho consciente
Lúcido
Sinto que não posso mais perder esse fio condutor
Que me liga ao meu imaginário
Que me permite andar perdida
Esquecida
Não me lembrando
Que Aqui e Agora
Emerge uma crise profunda
Profunda na bolsa
Mais profunda nos valores.
Não me acordem...
Venham sonhar comigo.
Cristina Vaz

domingo, 21 de outubro de 2012

 
 
 
 
FLOR DO DESAPEGO
 
 



Há umas décadas atrás
Sem que eu desse conta
Ramificou na minha alma
Um jardim onde proliferavam
Flores do desapego.
Umas flores sem cor
Sem cheiro
Que viviam da falta de luz
Da falta de calor humano
Viviam da frieza dos sentimentos.
Dei por mim a evitar os abraços
Os apertos de mão
Os beijos
Evitava criar laços.
Talvez tivesse sido
(Pensei eu)
Uma auto-defesa
Uma antecipação
De uma futura mágoa
De uma futura perda
De um presente apego.
Não me apegando a ninguém
Não sofreria na despedida.
Era simples a fórmula.
Com o tempo decidi arrumar a alma.
Uma espécie de limpeza...
Descobri então que a flor do desapego
Tinha ocupado todo o seu interior
Retirando o espaço ao amor e à amizade
Lotação esgotada.
Percebi que no interior da minha alma
Faltava o SOL
E a falta de luz e o frio dos sentimentos
Mantiveram a flor viva
Fizeram-na sentir-se em casa...
Como um hóspede
Com um convite vitalício
De hospedagem.
Abri de imediato as janelas
Deixei a porta aberta
E a alma respirou fundo...
O SOL entrou devagarinho
E com ele a flor foi murchando
Até que deixou todo o espaço vazio...
O amor e a amizade regressaram a casa
Ao lugar onde pertenciam
Bem junto ao coração
Hoje em dia já não viro as costas a um abraço
Já não evito um beijo
Um carinho.
Se me magoar?
Se me desiludir?
Terá valido a pena.
Terei vivido.
Terei sentido.
A flor do desapego?
Neste jardim não mora mais
Não consegue sequer entrar
Pois o SOL ofusca-lhe
A entrada.
Foi uma viagem sem retorno.
As janelas vão permanecer abertas
Mas só para entrar a luz
E o calor...
Enquanto existir amor no meu coração.
E uma réstia de SOL
No horizonte.
Cristina Vaz
 
 
NOTA
 
 




E se o amanhã nunca chegar?
O que farei a todos os sonhos
Que fui guardando dentro de mim?
Perder-se-ão nessa viagem louca
Entre o aqui e o além?
Vou deixar uma nota escrita
Assim quando o SOL
Deixar de me aquecer o coração
Alguém irá pegar nela
Algures
Alguém irá sorrir
Ao ler os meus sonhos
Que deixarão de ser meus
E Não ficarão esquecidos
Perdidos
Quem sabe alguém os aproveita
Aqui e agora
Esperança vã
Enquanto existir amanhã.
Cristina Vaz

sábado, 20 de outubro de 2012

PEDACINHOS DE AMOR



De quando em vez
Com alguma frequência
A minha filha faz-me corações.
Corações de cartão.
Pega num cartão velhote
Cores, muitas cores
Tesoura...
Desenha uns olhos
Um nariz
E uma boca sorridente.
Os corações da minha filha
São sempre corações felizes.
Felizes e coloridos.
Escusado será dizer-vos
que já tenho uma valiosa colecção de corações.
Pedacinhos de Amor.
Sempre que me oferece um
É um pedaço de Amor que me dá.
Vou contar-vos um segredo:
Quando que se aproxima a época natalicia
É isso que peço ao Menino Jesus.
Que na minha meia não falte um pedaço de Amor.
É tudo o que preciso
para sentir a magia...
Não é isso afinal o Natal?
Obrigada minha querida
Por todos os teus corações
Sorridentes e coloridos.
Sabes uma coisa?
Um dia vou construir um Castelo.
Não de pedras...
Mas de pedacinhos de Amor.
Cristina Vaz

sexta-feira, 19 de outubro de 2012


SOLDADINHO DE CHUMBO



Pequeno soldadinho de chumbo
Num barco de papel
Comandado por um exército louco
Que me manda para mar alto
Pequena marioneta
Num mundo de fantoches
Pierrot a quem a lágrima já secou
Cinderela sem sapato de cristal
Nem Fada Madrinha que me ajude
Personagem secundária
Numa peça sem guião
Assim me sinto
Quando o meu sentir
Sinto que não basta
Quando pequena sou
Perdida vou
Quando tento gritar
Mas a voz é fraca
E o destinatário é surdo.
Quando procuro a luz
E já não existe o Túnel.
Cristina Vaz
 
 
AQUI
 
 




Aqui me encontro
Neste espaço que é só meu
Onde ninguém entra
Onde me encontro comigo
Me reencontro com o meu ser mais profundo.
Aqui não existe tempo.
Não existe medo.
O frio não entra.
O medo não mora.
A solidão não existe.
Aqui sossego o coração agitado
Do dia-a-dia
Esqueço o mundo lá fora.
Aqui não se ouvem gritos
Não caiem lágrimas
Nada mais importa...
A não ser as cores da vida
O Sol que me aquece a alma
Aqui acredito no Amor
Enquanto força que move o mundo
Enquanto sentimento uno
Que faz os dias valerem a pena
Aqui sou feliz...
E só entra quem tiver a chave do meu coração.
Cristina Vaz

AGORA



Dou por mim a pensar
no dia em que o meu corpo se cansar
Em que irei desistir e o coração deixará de bater.
É inevitável eu sei...
Mas como farei depois para beijar os meus filhos?
Para lhes dizer que os amo?
Para os tentar proteger?
Isso atormenta-me.
Mais que tudo na vida.
Mais que a dor fisica.
Mais que a própria morte.
É por isso que sinto...
Sinto que é importante dizer
Fazer com que os que amamos
Percebam
Que são Queridos
Protegidos
Sentirem que fazem parte de nós
E que um dia apenas uma parte deixará de estar
Fisicamente presente
Ficará sempre algo neles de nós
Um beijo
Um abraço
Uma memória
Tatuada na alma
Pinceladas na eternidade
Cristina Vaz

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

 

 
Acredito que o amanhã tem futuro.
Mesmo que o presente seja desanimador
Mesmo que pareça não haver saida
Mesmo que tenha medo e sinta dor.
Acredito que depois de um dia cinzento
E frio
Vem sempre um dia sereno.
Quente e tranquilo.
Acredito que as doenças
que por vezes aparecem
Apenas nos fortalecem
Acredito também na nossa espécie
Humanos, sensíveis
Generosos
Bondosos.
Sei que existe o reverso de tudo isto
Mas apesar disso acredito
E por acreditar percebi
Que este meu sentir
Só pode ser algo maior
Algo que me mantém de pé
Algo a que os entendidos chamam
FÉ.
Cristina Vaz
 
 
 
 
(DES)ENCONTROS
 



Não é a vida um devir alucinante?
Surpreendente?
Constantemente Inconstante?
Porque será que alguém surge no nosso caminho
De mansinho
Sorrateiramente
E de repente mora no nosso coração?
Fado?
Destino?
Acaso?
Será?
Será que dois seres se cruzam apenas porque sim?
Conspirará o Universo
para que possiveis almas gémeas se cruzem
Nesta vida?
Não faço ideia.
Sei que por cada encontro
Milhentos desencontros se proporcionam.
Bom acreditar que vale a pena.
Que estamos no trilho certo.
Que encontramos quem era suposto.
Que este novo amigo
Irá fazer sentido
Irá ser uma aventura
Fundamental no nosso livro
Que acrescentará valor na nossa história.

E os desencontros?
Apenas isso.
Encontros que não aconteceram
Futuros perdidos.
Presentes que passaram.
Algum dia saberemos?
Talvez com o decorrer da história
Com o contabilizar de sorrisos
E de lágrimas perdidas.
Talvez.
Cristina Vaz

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

 
PRIMEIRO DIA DE ESCOLA
 
 
 




Meu amor:
Este é um dia que me enche de orgulho e emoção.
Estás a crescer filho. Estás a deixar de ser o “meu” bebé, a criar as tuas asas, e isso é bom. É tão bom ter o mundo nas mãos filho. E ele ai está para ti. Agora vais iniciar uma etapa, vais subir um degrau numa escada que te levará lá, onde tu mais desejarás.
A mãe vai estar sempre aqui. Para te dizer o quanto te amo (mais que muito, mais do que o universo, tu sabes!), para te apoiar, para te dizer que sim, que sabes, que consegues, para não teres medo de nada, para te dizer que vais sempre ser o que de mais importante existe na minha vida e para te dizer que independentemente das tuas escolhas (que serão só tuas) irei sempre apoiar-te incondicionalmente.
És um menino meigo, sensível e inteligente. Não deixas a mãe matar uma aranha porque é da natureza, porque merece viver. E é verdade.
És um irmão mais velho que te preocupas, que vais dar um brinquedo teu à mana porque não gostas que ela chore, porque sabes partilhar e porque acima de tudo gostas muito da tua irmã.
És um filho que diz que não queres que os pais morram nunca, nunca! (e nunca iremos morrer meu amor, seremos eternos e universais, aqui e agora).
És um menino também inseguro, que tem medo de falhar, porque queres que tudo esteja perfeito, porque tens medo de decepcionar.
Gostava que soubesses, que mesmo que um dia falhes, mesmo que não faças um desenho menos bem, mesmo que ainda não saibas fazer seja o que for, o importante é nunca desistires e acima de tudo acreditares em ti. Eu acredito em ti!
Aprender faz parte da vida meu amor, e saber fazer uma coisa de cada vez, subir um degrau da “escada” de cada vez, é o que realmente importa.
Mas tu ainda és um menino. O meu menino, que vai para “outra” escola.
Vai ser uma descoberta, vai ser uma experiência nova e vais ver que vais adorar.
Agora é tempo de guardares numa gaveta da tua memória, este tempo que aqui passaste.
É tempo de alegria e é tempo de cresceres!!!
Gosto muito de ti, Alexandre.
Tanto.
Cristina Vaz
NÃO PARTAS NUNCA MAIS
 
 


Quem cativou quem?
Ainda não percebi bem.
Mas que importa?
Importa sim
Este meu sentir
Este colo onde me deito
Onde descanso
Mesmo que imaginário.
Este abraço sentido
Que me conforta
Me dá alento
Mesmo que não fisicamente.
Encontrei em ti
O meu porto de abrigo
O meu refúgio
O meu jardim proibido.
Assim que te encontrei
Percebi a falta que me fazias
Apenas não o sabia
Bom sentir-me assim
Envolta num sentimento puro
Cristalino
Quase que angelical.
Assim me sinto
Solidão partilhada
Entre um oceano de gente
que me rodeia
Gente cheia de palavras ocas
Vidas vazias
Contigo percebi
o que é empatia
Amizade
Criar laços
Com medo sim
Não vou mentir
Quem ama tem medo
Medo que um dia vás embora
Como chegaste
De forma inesperada
Mas agora sinto
Sinto-me cativada!
Cristina Vaz


CHOVE




Chove lá fora.
E eu choro.
Um choro interno.
Imperceptivel ao olhar comum.
Uma catarse da alma que me visita.
Uma melancolia que chega.
Não. Não é tristeza.
Faz-me falta estes dias.
Como falta faz a chuva à terra seca.
Faz-me falta o silêncio.
A ausência de palavras.
O frio de um dia cinzento.
Nestes dias percebo que tudo é.
Nada existe ao acaso.
Valorizo então mais o raiar de um dia de Sol
Agradeço a companhia dos meus.
O calor de cada palavra proferida.
Aprecio com mais intensidade a beleza do Universo.
Um Universo caótico
Aqui...
À margem...
De uma gota de água que corre
Incessante lá fora.
Melancolicamente feliz.
Suavemente Tranquila.
Cristina Vaz

terça-feira, 16 de outubro de 2012

TELA INACABADA



Tela inacabada
Peça de um puzzle
Sem encaixe aparente
Quebra-cabeças sem solução
Dilema
Ausente
Demente
Incognita premente
Maneira de ser assim
Que me alimenta
Me acalenta
Espirito inquieto
Sem tempo a perder
Sem lugar a amorfismos
Conformismos
Existe beleza em algo assim?
Disforme?
Atipico
Insatisfeito
Branco no meio do preto?
Provavelmente não.
Talvez seja uma aberração
Mas que fazer?
Assim sou eu
E sabem que mais?
Aprendi a gostar de mim.
Assim!
Cristina Vaz
 
PENSAMENTOS
 




Decidi que vou fazer uma espécie de triagem
Dos meus pensamentos,
Tipo: Pensamentos que devo ter
Pensamentos que não é suposto ter
Pensamentos que não quero ter.
Não vai ser tarefa fácil eu sei.
É que eles,
Os meus pensamentos
São rebeldes
Autónomos
E por vezes
Sinto-me numa espécie de labirinto racional
Perco-me
E confundo as minhas prioridades.
Focar-me no essencial
E perceber que o mundo
Nem sempre é colorido
Existem entre os seres humanos
Uns mais humanos que outros.
É aqui que devo centralizar os pensamentos
Tentar não me entristecer
Com aqueles que me magoam
E absorver o bom que cada um me dá.
Assim de forma filantropica
Sem mais
Ainda existe quem valha a pena
Ainda existe aqueles em quem eu devo pensar.
Prioritário pensar no amor.
Prioritário Amar.
Cristina Vaz



CHEIROS




A que cheira afinal uma manhã de Outono?
E a terra molhada?
O algodão doce
O chocolate quente?
O abraço de um amigo
O beijo de um filho?
E o Amor?
Terá também cheiro?
A verdade é que cada cheiro
que "captamos" e guardamos
na gaveta de memória
Provoca sensações
Liberta emoções.
Deixa saudades.
Ainda devo ter cheiros por descobrir...
Outros que não quero guardar...
Mas uma coisa é certa
A amizade tem um cheiro
De flor Rara
Com um perfume único...
Guardo cada flor
Cada cheiro
Todos eles diferentes
Todos especiais.
Cristina Vaz

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

DESISTIR



Ainda não desisti.
A teimosia vence o medo.
Derruba o quotidiano.
Enfrenta a monotonia.
Mas nem sempre é fácil.
Vezes há em que apetece fazer de Deus
Parar a viagem a meio.
Entregar os pontos.
Não lutar mais.
Simplesmente morrer por dentro
Deixar secar a fonte que alimenta a alma
Deambular um corpo
Amorfo
Nulo
Vazio
Sobreviver apenas.
Talvez por isso eu escreva
Talvez por isso eu aclame o SOL
Talvez por isso sinta necessidade de me reinventar
A cada dia
Talvez por isso eu seja assim
Meio tonta
Por ter medo de um dia
Ficar apenas
Meio viva
Meio Morta.
Cristina Vaz
NUM BANCO DE JARDIM


Todos os dias os vejo naquele banco de jardim.
Os mesmos. Os de sempre.
Com os mesmos hábitos.
Como se olhasse para uma tela.
Tomam o café com o cheirinho
Jogam a sua bisca
Fumam o seu cigarro
E esperam.
Sentados esperam.
Conversando sobre o tempo
Sobre a crise
Sobre nada.
Esperam que a vida passe
Olhando a vida passar-lhes ao lado.
Naquele banco de jardim
Já nada anseiam
Com nada sonham.
Apenas esperam.
Eu olho para a tela
Na qual alguns vão desaparecendo
Outros renovando a mesma
Uma tela ausente de esperança
Uma tela viva
Mas sem cor....
Que me entristece.
Cristina Vaz

GOSTO DE TI




Gosto de ti assim...
Devagarinho
Serenamente
Secretamente
Inexplicavelmente
E faz-me bem gostar assim.
Sem mais.
Apenas porque sim.
É bom saber que existes
Bom perder horas pensando-te
Adivinhado-te.
O que estarás a fazer neste momento.
Sentir-me novamente adolescente
Mas agora percebendo que ninguém me tira
O meu sentimento.
Meu apenas.
Que espero eu de ti?
Nada. Somente que me deixes
Gostar-te
Desta minha maneira
Talvez estranha
Mas intensa.
Com sabor "A mar-te".
Com sabor aquele beijo
Que ficará na minha imaginação
Com sabor aquele abraço que não senti
Com sabor a um desejo
Que será sempre teu
Como o meu coração
Enquanto existir aqui e agora.
Cristina Vaz
NUMA TARDE FRIA
 




Gosto destes pequenos momentos de puro ócio
Onde em dias frios como o de hoje
Me sento em frente à lareira.
Vendo a tarde passar através da janela.
Perco-me observando a dança
Dança sensual, ritual de luz
Onde a chama seduz
E a lenha é seduzida.
Espetáculo de cor
Calor
Mexe comigo
Com os meus sentidos
Quanto mais a chama entra lenha dentro
Mais a mesma se enaltece
Enquanto a lenha desvanece.
É nesta luta desigual
Entre quem seduz e quem é seduzido
Que me perco
Enquanto o meu corpo aquece
Até chama e lenha se extinguirem
Principio e Fim
No meio de uma tarde fria.
Cristina Vaz

domingo, 14 de outubro de 2012

O MEU LIVRO
 
 



Desde menina e moça que escrevo.
As palavras sempre se formaram na minha mente
Em forma de pensamento
E desde cedo que sinto necessidade
De as libertar de mim.
Uma catarse que não prescindo
Para exorcizar talvez aquilo que me apoquenta.
No fundo o livro da minha vida
Sempre existiu
Gradualmente
Cresce comigo
Ele e eu somos unos
Pois ele sou eu.
De inicio escrevia e destruia.
A nudez da minha escrita adolescente
Feria.
Embaraçava.
Estava exposta em demasia.
Transparente, nua e crua.
Com o passar dos anos
A vida ensinou-me um conceito novo.
A subtileza na sua prática
Que apliquei nas palavras
Na vertente teórica.
Percebi que o meu livro
Teria que ser escrito assim
De forma subtil
Podendo ser uma arma
Ou uma defesa.
Deste modo
Continuo transparente
mas agora não visivelmente desnuda.
Só quem tiver paciência
E me gostar verdadeiramente
Perceberá que estou lá
Sempre
Em cada nota que aqui vos deixo
Apenas ao alcance de alguns
Àqueles que me encontrarem nas entrelinhas.
E nesse dia
Esses leitores àvidos e atentos
Ter-me-ao desnudado.
E terão percebido
Que o livro da minha vida...
Sou apenas eu
Nua e crua.
Cristina Vaz
 
HIBERNAR
 
 



Intuo umas nuvens cinzentas que se aproximam
De mansinho
Soberanas conquistam o céu
Tapando o Sol
Ficando bréu
Assisto
Sinto frio
Resta-me isso
Esperar
Não me vejo a partir
Não me vejo a ficar
Sinto cada dia mais latente
A vontade de hibernar
Até tudo amainar
Sim
Sinto-me blue
Para que negar?
Mas sei que tudo vai passar
Frágil me sinto
A quebrar por dentro
A qualquer momento
Por isso hiberno.
Tento conservar o que de melhor
Em mim resta
O que de melhor em mim ficou
Quem sabe um dia acordo
E tudo passou
Descubro novos céus
Novos ventos
Quem sabe a letargia
Me Ganha e eu desisto
De acordar
Quem sabe?
Por agora sei que devo parar
Não é um Adeus
É sempre um até Já.
Cristina Vaz
 
HOJE SENTI A TUA FALTA

Hoje queria dizer-te que estou triste.
Que senti a tua falta.
Como a sinto a cada dia que passa
E não te vejo.
Sinto falta do teu cheiro
Do teu beijo
Do teu abraço.
Do teu calor.
Só tu sabias quando eu estava blue.
Bastava olhares-me nos olhos.
Hoje queria contar-te
Como está a minha vida.
Se estou feliz
Ou me sinto perdida.
Queria mostrar-te os teus bisnetos
Que lindos que eles estão vó.
Queria dizer-te que te Amo
Por todas as vezes que não te disse.
Sinto-me triste.
E tu não estás aqui.
Perto de mim.
Quem me enxuga agora as lágrimas?
Quem me tira esta saudade?
Hoje senti a tua falta.
E tu não estavas
Para me amparares.
Cristina Vaz

AO CIMO DE TI



Senti-te a chamar por mim
Montanha altiva
Inóspita
Agreste
Fria.
E acudi ao teu pedido.
Por ti subi
Até as minhas pernas
Se cansarem
Até onde o meu corpo
Resistiu.
E te alcancei.
A ti cheguei.
Não és inóspita
Nem sequer fria.
Apenas querias companhia.
Ao cimo de ti
Senti uma brisa ligeira
Companheira
Respirei fundo
E abracei o mundo.
Percebi a tua mensagem.
Senti-me livre
E percebi
que faço falta ali em baixo.
Por ti subi
E sim
Valeu a pena.
Cristina Vaz
AMO-TE



Hoje não me apetece ser lamechas.
Escrever frases feitas.
Clichés banais.
Não me apetece deitar palavras
Ao sabor do vento.
Sem fundamento.
Apetece-me mesmo ser sincera.
Comigo.
Contigo.
Dizer-te que te queria aqui
Comigo.
Mas que o meu querer não basta
Não é forte que chegue.
Não derruba as nossas fronteiras.
Apenas é um sentimento
Que guardo em mim
Como algo de precioso
E como hoje me apetece
Ser sincera
Dir-te-ia deliciosamente
Em surdina
As palavras que nunca irei escrever:
Amo-te.
Na total abrangência
Que a palavra abarca
Perdidamente.
Cristina Vaz

SONHO


Esta noite tive um sonho fantástico.
Tinha descoberto a Terra do Nunca.
Eu vestia a pele da Sininho
Versão Morena
E andava perdida com o meu
Peter Pan
Fascinio por um menino
Que teimava em não crescer.
E que devagarinho
Me ensinou a ser feliz
Com pequenas coisas
Simples
Bastava ver aquele menino
E a fadinha
Já ficava radiante
Transbordante de emoção
Tudo era ídilico
Como é suposto ser nos sonhos.
Quando acordei
Entendi que a Terra do Nunca
Sempre existiu
Povoada de meninos especias
Pessoas de verdade
Como tu e eu
Entendi que as fadas
Andam entre nós
Lançando os seus pózinhos mágicos
E que eu até conheço o Peter Pan
E foi ele que me ensinou
A ser menina outra vez
Num mundo mágico
Onde só entra
Quem perceber a magia
Da amizade.
Cristina Vaz
NÓS
 



Entre a realidade e o imaginário
Entre o poder e o querer
Entre o certo e o errado
Aqui nos situamos Nós
Nesta fronteira perigosa
Reduzida
Limitativa
Num abismo de emoções
De sentimentos.
Simples seria olhar-te
Sem palavras
E perceber o que sentes
Sentir
Que sentimos
O mesmo
Mas não o consigo
Daqui não te alcanço.
Simples seria
Amar-te
De olhos fechados
Sem realidade
Nem imaginário
Apenas Nós
Mas o Nós
Não é simples...
e nesta fronteira
Nem sei se existe
Tamanha é a complexidade
Deste sentir.
Cristina Vaz
 
 
APENAS UM BANHO QUENTE
 



A àgua quente cai lentamente
Enquanto a espuma
Cobre o meu corpo desnudo
Fecho os olhos
Respiro esta paz
Esta envolvência
O toque da àgua
O silêncio
E deixo-me invadir
Por este calor
Que me aconhega a alma.
Sinto os meus pensamentos.
Estão irrequietos
E dançam
Sinto as palavras
Que se entrelaçam
Formando frases
Pareço louca
Eu sei
Mas as palavras teimam
Em me seguir
Eu permaneço de olhos fechados
Tentado ler os meus pensamentos
Percebe-los
Na esperança de me encontrar neles.
Serena.
Tranquila.
De encontro comigo.
Quase que me desmaterializo
Quase que vejo a minha alma refletida
No espelho embaciado
Dançando com as palavras
Irrequietas.
Enquanto tomo um banho quente
Nesta tarde fria de Inverno.
Cristina Vaz
 
 
A VIDA NÃO É UMA DROGA
 



Quinze anos.
Necessidade de abarcar o mundo na palma da mão.
Sentir. Sentir muito.
O tempo urge.
Vontade de conhecer, de querer, de saber.
Sentir as emoções até roçar o limite.
Velocidade. Loucuras.
Tudo faz parte.
A fronteira entre o bom e o mau
É ambigua
Hoje somos felizes
Amanhã miseráveis.
Somos um mar agitado
De sentimentos divergentes.
Adolescentes.
Tinha uns amigos que me aliciavam
Com uns "pózinhos mágicos"
Diziam que com eles
Andava literalmente nas nuvens
O dia todo.
Não existiam dias maus.
Tudo era cor-de-rosa.
Tinha que experimentar.
Vá lá. Não te vais arrepender.
(Espécie de diabinho que soprava no meu ouvido)
Hesitei.
Mas decidi experimentar.
Só uma vez que mal havia?
Nesse dia tudo foi de facto fantástico.
As saidas com os amigos.
A escola.
Os problemas?
Mas que problemas...
Vamos rir
Alcançar o Nirvana
Ecstacy total.
Tão bom que depois de um dia
Foi outro
E outro
E chegou a um ponto
Que existia uma dependência
Quimica
Fisica
Não conseguia acordar
Sem ter aqueles pozinhos
A vida já não fazia sentido.
As ressacas
As degradações
Morais
Motoras
O estado deplorável
O abismo
O precipicio
A vontade de cair bem fundo.
Dia dos meus 20 anos.
Recebo uma carta de uma amiga.
Daquelas resistentes
Que apesar de me ver cair
Me ia levantando.
Foi a carta que mais me magoou
Em toda a minha vida.
A carta que me salvou.
Parca em palavras
Tocou na essência.
Também ela estava a desistir
De mim
Dizia-me apenas:
"Não podemos lutar contra a nossa natureza.
Tu escolheste a tua.
Gosto muito de ti. Parabéns!"
Uma carta de despedida.
Que me mutilou por dentro
Que me fez renascer.
Perceber que aqueles pós me tinham destruido
Que tudo era ilusório
Que não existe uma vida só cor-de-rosa
Que a vida tem todas as cores
E que é lutando sem subterfúgios
Que a entendemos
Que somos felizes.
Mea culpa.
Que tinha eu feito?
E agora?
Levantei-me
Do poço fundo onde tinha caído
Lentamente
Dolorosamente
Aos poucos
Renasci das cinzas
Voltei a ser eu
A minha amiga?
Continua comigo
Na minha luta.
Sempre a meu lado.
E sabem
A vida não é uma droga.
Cristina Vaz
ESTRELA





Quase que não me reconheço
Pareço uma sombra
De mim própria
Hoje em dia
Dou por mim a pensar
Penso em ti a toda a hora.
Da tua luz me alimento
Da tua presença eu sobrevivo
Da tua luz apago os dias cinzentos.
Já me habituei a ti sabes?
Já me habituei a saber-te ai
A olhares por mim.
E agora?
Que faço eu?
Já não me reconheço
E se um dia olho para o céu
E não te vejo?
Que farei eu sem ti?
Já não sei.
Cristina Vaz

 
 
 
HOJE NÃO



Não me perguntes
O que se passa comigo.
Porque perdi o meu brilho
Por onde anda o meu SOL.
Não me perguntes
Se ando triste
Porque a alegria já não existe
Por onde ando Eu...
Que já nem me conheces
Não me interrogues mais.
Não quero falar.
Não quero pensar.
Não quero sentir.
Não estranhes os meus silêncios
As minhas ausências
De mim para comigo
Ambiguo
Perigo
Não perguntes.
Não queiras saber
Onde anda meu pensamento
Neste preciso momento
Hoje não.
Hoje preciso apenas do teu abraço.
Cristina Vaz

E DEPOIS DO ADEUS





Dizer-vos que a carta chegou ao destino.
Como previsto.
Feito o luto emocional
Da angústia ficou o Alivio
A dor reverteu a serenidade.
Agora?
Agora já nada mais importa.
Acabaram-se as equações
E as perguntas sem resposta.
Dizer-vos
Nesta paz em que me encontro
Que nem sempre os principezinhos
São reais
Provavelmente não o serão
Razão e emoção divergem
Acontece.
O meu existiu no meu coração.
Não quero acreditar
Que foi em vão
Que não passava
De um menino banal
Fraco e sem coração.
Não devo.
Amo-o demais para isso.
Por vezes fixamos o olhar
Num ponto brilhante
E julgamos ser uma estrela
Ao cair do dia
Percebemos que era apenas um foco de luz
Perdido no horizonte
Mas que importa?
Depois do Adeus
Que fica então?
Fica a minha capacidade
De entrega
De amar
De acreditar
Fico eu
Sem conjugar o verbo nós
Conjugando sempre o verbo
AMAR!
Cristina Vaz