domingo, 25 de novembro de 2012

ACORDEI




Acordei com vontade de conquistar:
Um pedaço de estrela
Um retalho de céu
Uma coberta de nuvem
Um sopro de mar.
Acordei e respirei fundo.
Sorri ao mundo
Como me habituei a fazer
A cada dia.
Acordei e nesse respirar
Envolvi em mim
Uma vontade imensa de Amar
Intensamente
Cada pedaço de vida
Cada fragmento de mim.
Acordei e pensei em ti.
Como fazia outrora.
Outrora lá distante
Longinquo.
Perguntei-me em silêncio
Onde estarias
Em que pensavas.
Mas o silêncio foi a minha resposta.
Acordei
E respirei fundo
Sorri
E percebi que nunca fizeste parte de mim
Nem do meu mundo.
Cristina Vaz

segunda-feira, 19 de novembro de 2012


POR ONDE ANDARÁ O MEU ANJO







Por onde anda o meu anjo?
Que acordou os meus sentidos
Alguém me diz?
Sinto-o perdido
Perto daqui
E estranhamente longe
Distante e Frio.
Onde andará o meu anjo
A quem eu dava os Bons Dias
Com quem adormecia.
Aquele das horas mortas
A quem eu servia de companhia.
Comigo ele chorava e sorria.
Não importava muito mais.
E nesse nada que era tudo
Coexistíamos
Um sem o outro
Todavia alheios ao mundo
Aos outros.
Onde andará o meu anjo
Alguém me diz?
Cristina Vaz

terça-feira, 13 de novembro de 2012

SENTIR
 
 




Por vezes tenho medo de tocar.
De exteriorizar e que seja em demasia...
Questiono-me se serei uma pessoa fria....
Por vezes tenho vontade de abraçar.
Daqueles abraços sem palavras.
Daqueles abraços que não têem acabar...
Por vezes tenho vontade de não me limitar a ouvir.
De agir.De intervir.
Por vezes sinto que ficou muito por fazer no dia que findou.
Sentimentos que passaram
Beijos que não se deram
Palavras que não se pronunciaram...
Por vezes sinto um vazio
Como se estivesse à margem de um rio....
Por vezes.
Cristina Vaz

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

APRENDI





Aprendi que a Torre de Marfim que me entorpecia e embriagava os sentidos sempre tinha uma saída. Uma saída de um baluarte sem sentido do qual me resguardava de coisa nenhuma. Fora do Castelo não existiam dragões a cuspir fogo. Também não existiam príncipes encantados montados em cavalos brancos prontos a salvar a donzela em perigo.
Existia vida. Existiam homens e mulheres. Sentimentos. Atônita constatei que de nada valia temer o desconhecido.
Decidi romper com a letargia,com o conformismo, e partir qual barco à vela sem bússola nem destino.
Deixar a vida fluir apenas. Quando somos jovens idealizamos, perspectivamos, acreditamos que tudo é possivel de alcançar.
Caimos muitas vezes, mas apesar de no meio da história o decorrer não ser o que por nós foi imaginado, arranjamos sempre força interior para nos levantarmos novamente. Não interessa as vezes que caimos, mas o que apreendemos com as nódoas negras que ficam, quando nos reerguemos. Fortalece. Por vezes a dor alimenta-nos e certamente que nos torna mais fortes.
Que graça teria a vida se não tivessemos que lutar por nada?
Aprendi a valorizar tudo o que a vida me oferece e a agradecer por isso.
Ainda me resta aprender a ter fé, a acreditar que apesar de todos os momentos serem perecíveis não o são em vão.
Que tudo irá fazer sentido um dia....talvez num espaço sideral.
Cristina Vaz


HORIZONTE





A imensidão de um horizonte
Perdido no meio de nada e coisa alguma
Linha inatingível que separa o sonho e realidade
Magnânime e Inalcançável
Permanece imóvel e permite-nos sonhar
Com o que está para além da linha
E a vista não alcança
Perdida vagueio com o olhar faminto de infinito
Esperando transpor novas linhas
Mantendo vivo o sonho
Ansiando por realidade
No meio de nada e coisa alguma.
Cristina Vaz

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

 
NOITE
 




Sempre que chegas
Encerras em ti tantos segredos
Tantos silêncios
Sinto-te a falta.

Minha companheira de escrita
Em tí me inspiro
No teu silêncio
Na calmia das tuas horas
Que parecem infindas.


Anseio que chegues
Mas quero que partas


Amálgama de melancolia
E harmonia

Parte
Devagarinho
De mansinho
Ao romper da Aurora.

Para poder sentir
Que me fazes falta
Ao fim do dia
Á mesma hora

E te contar
como
o Sol
me aqueceu o coração
Durante o dia!
Cristina Vaz

quarta-feira, 7 de novembro de 2012



CASTELOS NA AREIA




Todos nós em certa altura da nossa vida já construimos castelos na areia.
Neles depositámos sonhos,ideais.
Em cada ameia um desejo
A cada grão de areia uma certeza.
Mas os castelos de areia são apenas isso.
Castelos feitos de areia.
Perecíveis como os nossos sonhos,
As nossas certezas,
A nossa vida.
Com o passar do tempo inevitavelmente desmoronam-se
E a certa altura a magia da construção não faz mais sentido
Torna-se hibrida
E o croqui do castelo
Apaga-se da nossa memória
Apenas porque nela já não existem castelos de areia.

Cristina Vaz

ESQUELETOS VAIDOSOS



Focando a retina naqueles com quem diariamente me cruzo
Que consigo eu ver?
Vejo seres humanos,
Alguns deles de vestes luxuosas, exibindo bens materiais, titulos académicos.Pessoas gradas.
Outros simples, sem grandes aparatos visuais, circunscritos ao que a vida lhes ensinou.
Despindo a vista do supérfulo e do acessório
Consigo ver para mais além...
Atônita constato que no fundo,
todos nós somos esqueletos vaidosos,
E em alguma altura da vida nos comparamos a outros "esqueletos"
Esquecendo que temos como handicape
A nossa condição humana
A mortalidade
Que no seu páramo
nos Reduz o corpo a pó
E nos liberta a alma.
Valerá por isso a pena
O nosso olhar de superior
Ou de inferior
Em relação ao nosso próximo?
Não seria mais justo
Olharmos todos na mesma direcção?
Cristina Vaz

terça-feira, 6 de novembro de 2012

COR




Acordei sobressaltada com o romper da Aurora.
Procurei-a por todas as divisões.
Nada.
Saíu assim como entrou. De forma inesperada.
Com ela levou aquele luto que eu carregava.
Mas deixou algo no ar.
Sabem quando há um incêndio?
Assim ficou a minha casa.
Meio chamuscada, Meio cinzenta. Meio sem cor.
Vou pintá-la. Decidido!!
Azul para o tecto.
Peço à Tiz algumas estrelas.
Vou encher o meu lar de cor. De vida colorida.
Agora a Tristeza irá pensar duas vezes antes de bater à porta.
Irá sentir o cheiro da tinta, como um repelente.
Estareí segura por uns tempos.
Descobri que a felicidade mora ao lado.
Apenas lhe dava os bons dias e passava discretamente.
Vou convida-la a entrar.
Nesga de SOL na janela do meu quarto.
Devo ir. Um dia espera por por mim.
Amo-vos.
Cristina Vaz
 
 
A MINHA VISITA
 


Hoje a tristeza bateu-me à porta.
Daquelas visitas inesperadas. Não me apeteceu abrir e fiz de conta que ninguém batia.
Mas ela persistente insistiu, insistiu e levou a dela avante.
Não a convidei a sentar com o pretexto que ia sair.
De nada me valeu. Veio para ficar.
Uma hóspede com bagagem para vários dias.
E um hóspede absorvente. Colou-se de tal maneira a mim que me acompanha para onde quer que eu vá.
Já não sei que fazer.
Tenho que aguentar estes dias e desejar que estes não se transformem em eternidade.
Tenho medo. Medo de me afeiçoar e ser eu quem não queira que ela vá embora.
No fundo sinto que me faz companhia.
Curiosamente em frente dela não consigo chorar.
A sua companhia torna-me resistente à dor exteriormente.
Não me deixa comover com facilidade e a catarse da alma estagnou.
Sinto que parte de mim morreu com a sua chegada.
Sinto-me num luto dorido mas sem uma lágrima corrida.
Já nem me sinto.
Cristina Vaz
DIÁRIO
 
 



Facilmente se compara a vida de cada um de nós a um Livro.
A analogia é de fácil trato.
Cada dia, uma página corrida.
Cada etapa importante da nossa vida um capítulo que se inicia.
Cada perda um capítulo que se encerra.
Dou comigo a reler páginas já escritas.
Existem dias em que tenho vontade de arrancar outras.
Sei que isso não é possível.
Este livro tem a particularidade de não permitir segundas edições, nem apagar o que já foi escrito.
Não existe a opcção Delete.
É um desafio aliciante.
Sabemos de antemão que o fim do nosso livro não será por nós escrito.
Alguém se encarregará de escrever "FIM".
Alguém o contará por nós, quando o nosso coração deixar de bater.
Nada fica para sempre.
Espero que o meu livro seja por alguém lido e o ache sereno.
Um livro suave para ler num fim de noite.
Que valha a pena ser lido.
Que emocione as personagens que de uma forma ou de outra estiveram sempre presentes em cada página.
E que no fim esbocem um sorriso e digam: SOL.
Até que ele, o livro acabe naquela prateleira empoeirada.
Até acabar em pó.
Até acabar em nada.
Cristina Vaz

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

 
CORAÇÃO DOÍ
 



Desde sempre escutamos expressões como:
O céu é azul.
Gostos não se discutem.
O coração não doí.
Dogmas. Frases feitas.
Mas porque se diz que o céu é azul?
Quando olham para ele que vêem?
Eu vejo cor, muita cor.
Vejo nuvens, Vejo o Sol.
Vejo passarinhos, aviões.
Estrelas....
Uma interminável palete de cores.
Gostos não se discutem.
Mas porque não?
Não discute o ser humano tudo e mais alguma coisa.
Porque deixou os gostos de fora?
Gostos que são tão discutíveis como subjectivos.
Claro que se discutem. Discutimo-los diariamente. Nem nos apercebemos disso.
Finalmente termino com a célebre expressão: O coração não doi.
Não conheço outro coração que não o meu, mas este malandro aqui por vezes doi sim.
E com tamanha intensidade que parece sair do peito.
Quando perdi a minha avó doeu como nunca me tinha doído antes.
Uma dor sem retorno que gradualmente se transformou numa serena saudade.
Mas dor. Como quando ficamos muito tristes.
Como quando pressentimos algo. Sabem? Aqueles maus feelings que se concretizam?
Doi.
Felizmente também existe o amor, a felicidade e a amizade.
Tudo mescladinho contrabalança a dor.
Por isso apeteceu-me reinventar as frases feitas.
Frases minhas.
Aqui vão:
O céu também é azul.
Os gostos também se discutem.
E finalmente: O coração sente.
E porque sente também doi.
Beijo.
Do fundo do meu coração.
Cristina Vaz

domingo, 4 de novembro de 2012

 
AS PEDRAS DA CALÇADA
 
 



Há dias dei por mim a invejar as pedras da calçada.
Parece estranho eu sei.
Pensei que depois de eu morrer, uma infinidade de pessoas as pisarão, e elas continuarão,alí, intactas.
Dia após dia após dia.
Invejei as rochas da minha Serra da Estrela, que irão continuar altas e imponentes geração após geração.
Nós, seres humanos somos frágeis e perecíveis.
Vivemos cada dia numa contagem decrescente até ao momento final.
Depois percebi que todos estes meus pensamentos eram uma tolice.
As pedras da calçada nunca irão verter uma lágrima.
As rochas nunca irão esboçar um sorriso.
Antes de morrer já estão mortas pois nunca chegaram a nascer.
Não sendo seres vivos não sentem.
De que lhes serve então essa espécie de imortalidade?
Parece um paradoxo eu sei.
De que serve à rocha a sua força e resistência se nunca irá sentir dor?
Sentir medo. Sentir.
De que serve a uma pedra de calçada que o Sol brilhe todos os dias?
Eternamente condenadas a uma existência num deserto de sentir.
Que se dane a nossa efemeridade.
Urge viver. Urge sentir.
Cada segundo.
E as pedras da calçada?
São apenas pedras. Numa calçada.
Cristina Vaz

sábado, 3 de novembro de 2012



SAUDADES




Congénere da tristeza.
Congénere da nostalgia.
Muito se tem dito sobre este sentimento.
Mais que um simples:"I miss you" dos britânicos.
Mais que o "Te echo de menos" dos nuestros ermanos ...
A saudade não tem uma definição simples ou linear tal é abrangência do seu sentir.
Saudades dos meus 15 anos em que não havia dias cinzentos.
Em que o "Romeu e Julieta" podiam ser os meus vizinhos do lado.
Em que "conhecia" efectivamente os meus vizinhos e o meu bairro.
Em que acreditava que tudo era possivel de alcançar.
Tenho saudades de acreditar em tudo isso.
Uma saudade nostálgica.
Saudades daqueles que amo e partiram fisicamente.
Cheiros, sítios vivem impregnados desta saudade.
Saudade carregada.
Saudade triste.
Saudades daqueles que ainda não conheço.
Saudades daqueles que nunca irei conhecer.
Saudades do que ainda não vivi.
Saudades do que nunca irei viver.
Aqui é uma saudade de um futuro que não existe.
De um passado que não aconteceu.
Uma saudade hibrida.
Uma coisa é certa.
É bom sentir saudade.
Só se sente saudade do que foi bom na nossa vida.
Ou do que poderia ter sido bom.
Resta-me dizer:
Ter saudades é ter amado.
É Amar.
Cristina Vaz
SOL


Há 10 anos atrás conheci uma pessoa que viria a tornar-se muito importante na minha vida.
Com o tempo fomos criando um código só nosso.
Combinámos uma espécie de pacto de sangue. Estar sempre lá. Aqui e agora.
Indiferentes à distância que nos separasse ou ao dia-a-dia.
Diriamos uma à outra SOL...e saberiamos que do lado de lá estaria tudo bem.
No Antipoda do SOL existia também uma palavra que nunca iriamos pronunciar.
Para quando tudo esfriasse, para quando não estivessemos bem.
NEVE era a palavra proibida.
O alerta. O código vermelho.
O tempo foi passando.
Muito aconteceu. O SOL mantem-se e pedi-lhe autorização para o partilhar com os meus outros amigos.
Ela disse:" O nosso SOL é precioso demais para ficar só nosso".
Desde esse dia que o "espalho" por vocês.
Hoje conhecem a sua história e sempre que vós digo SOL quero dizer-vos que estarei sempre aqui e agora.
Sempre desejando que tudo corra bem na vossa vida.
No fundo dizendo que vos quero bem.Que são importantes para mim.
Obrigada.Por estarem.
SOL
Cristina Vaz
BLUE


Não quero mais ter pensamentos tristes.
Gostava de descobrir uma borracha que apagasse da minha memória os maus pensamentos.
Uma vassoura daquelas que levasse consigo todos os fantasmas que andam perdidos no sotão.
Não quero mais pensar em tudo o que me deixa triste.
Não quero mais ficar apreensiva, angustiada não sei bem com que.
O passado passou. Ponto.
E o futuro?
Não quero mais sofrer por não saber como vai ser.
Preciso de aprender que é o presente que conta.
Que é o aqui que conta.
Que não posso sofrer com tudo o que se passa à minha volta.
Que tenho que aprender a respirar fundo.
A contar até 10.
Apesar de saber disso, não sei bem explicar, este não querer que nada quero.
Este "Melancholy Blue" que me visita.
Verdade o Blue acaba por ir embora.
Verdade é o SOL que reina...
Mas continuo sem saber porque...
Porque me deixa triste uma noite de luar,
Porque me deixa triste um silêncio
E porque anseio tanto o desconhecido
Porque sofro tanto sem motivo.
Porque fico assim. Blue.
Cristina Vaz

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

 
VERDE
 
 



Domingos Araújo.
Professor de Filosofia que veio de Braga dar aulas na minha escola.
Pronúncia engraçada.
Loirinho e pequenino.
Olho verde.
Corrigia os testes a verde.
Eu tinha 15 anos e despertava em mim o gosto pela filosofia e pelas coisas da escrita.
Comecei a escrever os testes a verde.
O professor usava uma caneta vermelha só para mim.
Era o nosso segredo.
Um dia resolve corrigir o teste com variadas cores e deixa-me um post scriptum:
"Todas estas cores são metafóricas e representam uma tentativa frustada de compreender a razão do seu verde".
Sorri ao ler.
Ele encolheu os ombros e comentou: "Não percebeu".
Com este professor aprendi que as aulas podem ser criativas.
Ansiava pelas suas aulas.
Aprendia com prazer e a brincar.
Um dia antes do ultimo teste pergunta-me se estou preparada.
"Estudou?".
Respondi-lhe com um desafio.
Iria comprar um livro nessa tarde e seria o meu estudo.
No fim do teste ele teria que adivinhar que livro escolhi.
O exame final consistia numa única pergunta:
Valeu a pena?
Quando entregou os testes deixou o meu para fim.
E começou a ler em voz alta.
Chorei.
Ele também chorou.
Neste ultimo teste deixou o seu ultimo post scriptum:
"Cristina gostei muito de a conhecer. Tenha coragem. Afirme-se e liberte essas asas. D.A"
Sim. Tive boa nota.
Sim. Descobriu o livro que tinha comprado.
Não. Nunca percebeu a verdadeira razão do verde.
Cristina Vaz
RED



Midnight.
Desço os degraus do salão.
Vestido vermelho rodado e um generoso decote.
Salto alto.
Lábios da cor do vestido.
Esta noite sou eu a Lady in Red.
Dancing with you...
Descendo à terra e aqui para nós nunca o cheguei a comprar.
Ao vestido dos meus sonhos.
Onde o iria eu usar?
Fico-me com o vermelho melancia.
Vermelho romã.
Vermelho rubor.
Vermelho sangue.
Vermelho coração.
Vermelho paixão.
Este é o vermelho que eu conheço ou conheci.
O meu vermelho quotidiano.
O meu vermelho vida.
O vestido?
Que importa....
é só um vestido.
Quem sabe um dia....
Cristina Vaz

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

BRANCO



Pureza.
Leveza.
Tranquilidade.
Paz e serenidade.
O principio e o fim.
Assim vejo eu o branco.
A cor primária que cada um de nós leva à nascença.
Uma pincelada mágica que nos dota de umas lindas asas brancas.
À medida que o tempo passa elas crescem connosco. As asas.
Crescem para fora e tornamo-nos seres luminosos,
ou crescem para dentro, tornando-as invisivéis a olho nu.
Tornando-nos invisivéis para os outros.
Alguns, optam por corta-las literalmente.
Não lhes vendo nenhuma utilidade pragmativamente cortam e pincelam o corpo de outras cores.
Outros teimam em esconde-las numa espécie de espartilho.
Fingem que não existem e elas vão atrofiando.
Perdem a cor, o brilho.
Chegam a perder a pureza.
Escurecem e nós escurecemos com elas, porque elas e nós somos só um.
Deixemos o SOL entrar. Libertemos o espartilho.
Não quero perder o meu branco...
Branco de paz...mas nunca de rendição.
Cristina Vaz
PROCURO-TE
 



Sem destino vagueio numa praia deserta.
Esperança vã de seguir o teu rastro.
Procuro-te nas marcas deixadas na areia.
No vento que passa.
Na água salgada que me salpica o vestido.
Estás em todo o lado por onde passo...
E não te encontro em lado algum.
Procuro-te e nem sei o teu nome.
Sei apenas que existes.
Algures...
Quem sabe numa praia deserta.
Cristina Vaz

quarta-feira, 31 de outubro de 2012


BUTTERFLY





"My soul is painted like the wings of butterflies"
Assim sinto eu a minha alma.
Livre e Colorida.
Presa num corpo a preto e branco.
Ainda não aprendeu a voar.
Medo da inexperiência do primeiro voo.
Medo de cair.
O coração bate a um ritmo acelerado sempre que ela sonha.
De longe observa as reacções do corpo a cada ímpeto de liberdade.
Livre.
Sem destino.
Prazer de sentir o azul do céu como limite.
Que faço eu agora?
Deixo-a partir?
Aventurar-se num voo...
E se não regressa?
E se a deixo neste cativeiro?
Nesta liberdade agrilhoada?
Cristina Vaz
 
 
PRETO
 
 


Luto.
Perda.
Tristeza.
Vazio.
O lado lunar de cada um de nós.
Uma cor carregada de dor. Pesada.
O abismo. O precípicio. O caos.
Existem momentos na nossa vida em que o preto é incontornável.
Faz parte, assim como a morte.
O túnel escuro no qual por vezes caimos
Do qual não sabemos se regressamos.
Há quem viva com um negro entranhado no corpo.
E aqueles que optam por te-lo apenas como um hóspede passageiro.
A quem dão guarida mas que anseiam que parta ligeiro e sem deixar mazelas.
Não é fácil resistir ao seu charme.
Assim como a lua quase que nos enfeitiça
E se nos descuidamos não o conseguimos mandar embora.
A opção é nossa.
Mas no fim existe sempre uma luz.
Mesmo que não a queiramos ver.
Cristina Vaz

terça-feira, 30 de outubro de 2012

 
A OUTRA METADE DE MIM
 
 



Anseio numa espera tardia
Esse dia
Dia em que te verei pela primeira vez
Dia em que o meu olhar e o teu
Se tocarão
Alma dentro
Como que adivinhando
Que nunca mais nos iremos largar.
E saberemos apenas pelo olhar
que a procura terminou
Seremos cumplices
Melhores amigos
Almas gémeas
Veremos juntos o por-do-sol
Iremos rir até à exaustão
Choraremos copiosamente
Juntos vida fora
Partilhando emoções
Coração agitado
Inquieto
Conto as horas
Os dias
Até ao momento em que os meus lábios
Beijarão os teus pela primeira vez
E nesse beijo saberei que valeu a pena a espera
Que encontrei em ti
A outra metade de mim.
Cristina Vaz
FAROL


Nada será em vão
Heroi ou vilão
De quem será a decisão?
E o percurso a seguir?
Insistir, persistir e nunca desistir.
Labirintos, ratoeiras
Há que ser perspicaz, tenaz
Enganar o destino
Ser um bom menino
E se nos perdermos a meio?
E se o caminho não for divino?
Se for arduo, penoso?
Não. Não ficamos rancorosos.
Seguimos em frente.
A linha terá um fim
E iremos conseguir
Basta acreditar
Que valerá sempre a pena
E quando avistar-mos o farol
Diremos simplesmente:
SOL!
Cristina Vaz

segunda-feira, 29 de outubro de 2012




(A)MAR

Perdi o meu olhar
Durante longos dias
No azul do mar
Naquela amálgama de azul
Mar e céu
Confudivéis
Na linha do horizonte
O Mar tem impregnado em sí
A tristeza de todos aqueles
que lá se perderam
Mas também a beleza da vida
O som das gaivotas como pano de fundo
A paz interior que sentimos
Sempre que fechamos os olhos
E deixamos que o SOL
Nos invada.
O intenso sabor de nos sentirmos perdidos
No meio de uma multidão de gente
Estranha
Que se entranha em nós
E nos faz sentir parte do quadro.
Hibrido este meu sentir
Mas verdadeiro.
Mar
Amar
Ficar
Querer ir embora.
Cristina Vaz.



INCONSTANTE



Mas por que raio sou eu assim?
Inconstante
Imperfeita
Incompleta
Assim me sinto
A cada instante
Maré cheia
Maré rasa
Gaivota perdida
Alma encontrada
Grito altivo
Silêncio que fica
Palavras a menos
Onde tudo foi dito
Letargia,
vazio lotado
Sufoco
Respiro
Tristeza
Alegria
Assim sou
Constantemente
Inconstante!
Cristina Vaz

domingo, 28 de outubro de 2012

BOLAS DE SABÃO
 
 




Ninguém é feliz 24 horas por dia.
Impossivel seria...
Onde ficariam os dias não?
As birras
Os dias de luto, de perda?
Os dias de medo?
E existem
E com eles ficamos tristes.
Aprendi que a felicidade se constroi
Em pedacinhos
Em fragmentos
Em momentos!
O simples sonhar acordado
O saborear um gelado
O sol de uma manhã de Outono
O vencer um dia enfadonho
O apoio de um amigo
que nos estende a mão
O olhar de uma criança
A sua emoção
No seu pequeno coração
ao ver no ar uma simples
Bola de sabão.
Cristina Vaz

sábado, 27 de outubro de 2012

NÁUFRAGA


 



Dei por mim perdida
Em pleno mar alto
Num pequeno barco à vela
Náufraga de mim própria.
De onde parei apenas havia
mar, mar e um céu que me fugia.
Tinha o silêncio por companhia
Sentia frio.
De lá via ao longe terra firme.
Via uns vultos.
Eram os meus filhos.
Só podiam
Brincavam na areia.
Tudo estava calmo.
Tudo permanecia.
E eu ali.
Ali jazia.
Mas nada temia.
Pois sabia que por lá
Por lá
Tudo acalmaria.
E eu
Eu a ninguém faltaria.
Acordei.
Foi apenas um sonho mau.
Cristina Vaz

 
 
TRANSPARÊNCIAS
 



Gosto da analogia entre mim e uma luz de presença.
Daquelas luzes suaves
Cuja finalidade é essa.
Estarem presentes.
Daquelas luzes que à primeira vista
e à luz do dia
permanecem quase que transparentes
Imperceptivéis a um olhar menos atento.
Deste modo consigo observar-te
Sem que tu me vejas
No meio de uma multidão desenfreada
Sem te ofuscar
Sem que repares sequer em mim.
Daqui consigo observar todos
que por mim passam
E como passa gente
Apressada
Numa correria
Sem tempo a perder.
Nem reparam que aqui estou.
Luz de presença.
Pequenina.
Se um dia precisares de mim
Deixarei de ser transparente aos teus olhos
E nesse dia irás perceber
Que sempre aqui estive
Apenas não me vias.
Cristina Vaz

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

OBSERVANDO-TE




Perco dias observando-te.
Cuidadosamente.
Silenciosamente.
Minuciosamente.
Observando-te me perco
nesse teu olhar penetrante
e contigo embarco numa viagem
a um mundo só nosso
Em que se confunde a minha e a tua pele
Em que já não sei mais
onde terminas e eu começo.
Observando-te já nada mais importa.
Esqueço que existe o dia e a noite.
Esqueço se existe o frio e o quente.
Já não importam.

Porque observando-te me perco
E a minha alma encontro
Porque observando-te me vejo
Em ti reflectida!
Cristina Vaz

 
 
VIDA(S)
 

Ainda não percebi o que se passou comigo.
Há umas décadas atrás era tudo tão diferente.
Fui feliz.
Era bonita.
Casei.
Tive dois filhos.
Objectivos.
Sentia que a vida fazia sentido.
Mas o tempo foi passando.
Também passou por mim.
Envelheci.
Hoje ninguém olha para mim.
Não como olhavam outrora.
O cabelo ficou grissalho.
O corpo amarrotado.
A minha cara...
Já ninguém me chama de menina
Como faziam....
Agora sou apenas a velha.
Os meus filhos casaram.
Tiveram os seus filhos.
Não têm tempo...
Deixaram-me aqui.
Nesta ante-câmara da morte
Junto a estranhos
que comigo partilham
o abandono
A solidão.
Todos os dias agora são iguais.
Sento-me aqui
diante desta janela
Onde aguardo uma visita.
As horas sinto-as
Como uma faca que vai perfurando lentamente
o meu corpo débil
Sangro
Ninguém vem
E eu espero....
Mas porque me abandonaram aqui?
Eu amo-vos tanto.
Terei feito algo de errado?
Ou foi apenas porque o tempo passou por mim?
Cristina Vaz

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Exercises in Free Love


 
 
ANJO
 



Hoje encontrei um anjo no meu caminho.
Não era como o tinha idealizado.
Não tinha auréola dourada
Nem costas cobertas daquela plumagem branca.
Era como tu.
Como eu.
Mortal.
Banal.
Olhou-me como nunca ninguém me olhara antes
Trespassando-me o corpo
Desnudando-me a alma.
Sorriu-me.
Estendeu-me a mão.
Deixou-me umas palavras escritas:
"Não desistas de ti.
Esquece essas nuvens negras que te atormentam.
O SOL está lá.
Mesmo que de quando em vez não o vejas.
Sente.
Sê forte."
Lembrou-me a efemeridade da vida
e relembrou-me que vale a pena.
No fim abraçou-me.
Um abraço mudo
Onde cabia o mundo.
Fechei os olhos impulsivamente.
Aí percebi quem ele era.
Já era tarde.
Foi embora.
Como te chamas? Ainda balbuciei....
Obrigada.
Cristina Vaz
VERMELHOS
 




Conheci uma senhora que me marcou por ser uma pessoa fria.
Fria da cor do gelo.
Parecia que nada a abalaria.
Que não sofria.
Que não sentia.
Só tinha uma preocupação que a inquietaria
A sua figura.
Os seus lábios vermelhos.
De um vermelho intenso
Contrastando com o incolor da sua vida.
Com a ausência de vermelho do seu coração.
Todos os dias mal acordava
Os seus lábios pintava.
Passava o dia nisto.
Dia após dia.
Batôn atrás de batôn.
Podia o mundo acabar
Mas os lábios tinha que pintar.
O tempo passou.
Enviuvou...
Sozinha ficou.
Na verdade acho que nunca amou.
Foi ficando sozinha
Tendo o batôn por única companhia.
Um dia fui visita-la.
Parecia desfigurada.
Sem cor.
Cinzenta.
Agora ainda mais fria.
Tinha decidido deixar de viver.
Já mais nada importava.
Percebi isso mal a vi.
Os lábios?
Já não os pintava
Estavam como sempre foram
Sem cor
Frios.
Vazios....
Como toda a sua vida.
Cristina Vaz
 
A MINHA ESTRELA
 
 



Quando parte fisicamente alguém que nós amamos
A forma que encontramos de minimizar a dor
E suportar a perda
É aceitar que esse ser partiu para um sitio melhor
E que algures no céu
Está agora uma estrelinha que brilha mais que as restantes
Porque é nossa
Eu já lá tenho a minha estrela.
Sei que aqui me amou como ninguém
Educou-me
Foi ela que me ensinou a ver as estrelas...
Que me ensinou a magia de uma noite de luar
Que me contava os contos antes de adormecer
(Queres que te conte ou que te diga?
E passava minutos nisto até que se deixava dormir
E eu sorria de felicidade)
Minha cumplice
Minha amiga
Hoje sou eu que a procura nas estrelas
Não duvido quando sinto o seu brilho
Como se aqui estivesse comigo
Com o seu abraço único
Sei que estou protegida
E que brilhará sempre para mim
Até nos reencontramos novamente
E lhe dizer:
Amo-te Vó.
Cristina Vaz

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

ERRANTE




Continuo este caminho
Sigo sem saber onde me leva
Sem questionar
Sem pensar em demasia.
Sei que não posso descansar
Mesmo que a maré fique bravia.
Mesmo que o corpo fraqueje
Se canse, desanime
É a alma quem insiste:
Em frente..
Não tenhas medo.
Resiste.
Agora já nada me detém.
Encontro espinhos,agruras,desalento
Mas o reverso também lá está
Se souber dar tempo ao tempo.
Escolherei o caminho certo
Saberei encontra-lo?
Não sei
Mas que se dane
A minha alma é soberana
Eu?
Sou apenas sua errante.
Nada importante.
Cristina Vaz

GRITO MUDO




Não consigo respirar.
Abre-me as janelas.
Deixa entrar o ar.
Sinto a brisa que me arrefece o corpo...
Mas este aperto que não passa.
Vontade de arrancar este coração
Vontade de gritar
Um grito mudo
Que me atormenta a espera
Que me silencia a alma
Que me anestesia o corpo.
Sinto-me a perder as forças
A vontade de pintar o mundo de cor
Não.
Não me digas nada.
Não quero saber.
Ouve-me tu a mim...
Sem que te diga uma palavra.
Tenta entender o meu olhar
Sem que me vejas.
Abraça-me sem te pedir...
Não percebes?
Esgotei as palavras.
Preciso descansar.
Cristina Vaz

terça-feira, 23 de outubro de 2012

EU




Cristina Isabel
Quase com quatro décadas de vida em cima
De um corpo
De uma alma.
De histórias
De passagens
De horizontes
De vidas.
Afinal quem sou eu?
Que faço eu aqui?
Sou uma menina que se recusa a crescer.
Que tenta esquecer o mundo dos adultos
E se refugia num mundo de faz de conta
Que partilha com outra parte de si.
Aquela em que representa o maior papel da sua vida
Mãe
Aqui nasce a leoa que desconhecia em mim
Que luta pelas crias
Que não se cansa
Que está presente.
Depois existe a irmã, a tia, a prima
A amiga
Finalmente existe o Eu
E é este Eu que deixo para o fim
A parte de mim solitária
Que não "pertence" a ninguém
A menos importante
É nesta parte
que me perco em labirintos interrogacionais
Que questiono
Que sonho.
Felizmente as outras partes de mim
absorvem esta infima parte
Não lhe dando grande margem de manobra
É neste Eu que escrevo.
É neste eu
Que ainda não descobri
Quem sou...
E o que faço aqui.
Cristina Vaz
 
A NOSSA HISTÓRIA
 



Vamos inventar a nossa história?
Pedaços de sonho
Pedaços de loucura
Um pouco de razão à mistura...
Sol, mar e céu
Será a nossa aventura.
Juntos vamos conseguir
Uma história cativante
Daquelas em que apeteça também entrar
Daquelas que fazem vibrar.
Voar...
Terá um pouco de bom e de mau
Pois tudo tem o seu reverso
Neste confuso Universo.
Mas no final saberemos
que cada cena fez sentido
Nenhum afecto ficou perdido
Foi tudo consentido
Nada foi em vão.
O passado já passou.
O presente é agora.
O futuro?
Pode ser a nossa história.
Cristina Vaz
SONHAR
 


Sonhos Recheados
Sonhos Dormentes
Sonhos Presentes
Sonhos Ausentes
Sonhos Coloridos
Sonhos Doridos
Sonhos...
Será que um dia acordamos e...
Nada...
Deixamos de os ter?
Uma mutilação
Ao compasso do envelhecer do corpo
Gradual e letal
Será?
Será que um dia a nossa memória
deixa de ter memórias?
Onde guardarei os croquis dos meus castelos de areia
Se assim for?
Ou será que ao invés
Até ao ultimo dia
o Sonho insiste
Persiste
Não desiste de nós
Indiferente ao corpo a que está preso?
Não sei...
Sei que gostava de continuar a sonhar
Pois é o sonho que nos guia
Que atenua a realidade
Por vezes fria
E nos aquece a alma.
Essa eu sei
Não envelhece
Vou continuar a sonhar
Até a tal Luz chegar e me levar.
Decidido.
Cristina Vaz

segunda-feira, 22 de outubro de 2012


REAL



Por vezes perco-me no meio dos meus sonhos
Por labirintos coloridos
Que me chamam
Me atraiem como um íman
Seduzem
Aliciam
Fazendo com que queria ficar por lá
Perdida no meio de tanta cor
Esquecendo-me que existe o cinzento dos dias
O negro das perdas
O frio das gentes
Talvez por isso sonhe cada dia mais
Um sonho consciente
Lúcido
Sinto que não posso mais perder esse fio condutor
Que me liga ao meu imaginário
Que me permite andar perdida
Esquecida
Não me lembrando
Que Aqui e Agora
Emerge uma crise profunda
Profunda na bolsa
Mais profunda nos valores.
Não me acordem...
Venham sonhar comigo.
Cristina Vaz

domingo, 21 de outubro de 2012

 
 
 
 
FLOR DO DESAPEGO
 
 



Há umas décadas atrás
Sem que eu desse conta
Ramificou na minha alma
Um jardim onde proliferavam
Flores do desapego.
Umas flores sem cor
Sem cheiro
Que viviam da falta de luz
Da falta de calor humano
Viviam da frieza dos sentimentos.
Dei por mim a evitar os abraços
Os apertos de mão
Os beijos
Evitava criar laços.
Talvez tivesse sido
(Pensei eu)
Uma auto-defesa
Uma antecipação
De uma futura mágoa
De uma futura perda
De um presente apego.
Não me apegando a ninguém
Não sofreria na despedida.
Era simples a fórmula.
Com o tempo decidi arrumar a alma.
Uma espécie de limpeza...
Descobri então que a flor do desapego
Tinha ocupado todo o seu interior
Retirando o espaço ao amor e à amizade
Lotação esgotada.
Percebi que no interior da minha alma
Faltava o SOL
E a falta de luz e o frio dos sentimentos
Mantiveram a flor viva
Fizeram-na sentir-se em casa...
Como um hóspede
Com um convite vitalício
De hospedagem.
Abri de imediato as janelas
Deixei a porta aberta
E a alma respirou fundo...
O SOL entrou devagarinho
E com ele a flor foi murchando
Até que deixou todo o espaço vazio...
O amor e a amizade regressaram a casa
Ao lugar onde pertenciam
Bem junto ao coração
Hoje em dia já não viro as costas a um abraço
Já não evito um beijo
Um carinho.
Se me magoar?
Se me desiludir?
Terá valido a pena.
Terei vivido.
Terei sentido.
A flor do desapego?
Neste jardim não mora mais
Não consegue sequer entrar
Pois o SOL ofusca-lhe
A entrada.
Foi uma viagem sem retorno.
As janelas vão permanecer abertas
Mas só para entrar a luz
E o calor...
Enquanto existir amor no meu coração.
E uma réstia de SOL
No horizonte.
Cristina Vaz
 
 
NOTA
 
 




E se o amanhã nunca chegar?
O que farei a todos os sonhos
Que fui guardando dentro de mim?
Perder-se-ão nessa viagem louca
Entre o aqui e o além?
Vou deixar uma nota escrita
Assim quando o SOL
Deixar de me aquecer o coração
Alguém irá pegar nela
Algures
Alguém irá sorrir
Ao ler os meus sonhos
Que deixarão de ser meus
E Não ficarão esquecidos
Perdidos
Quem sabe alguém os aproveita
Aqui e agora
Esperança vã
Enquanto existir amanhã.
Cristina Vaz

sábado, 20 de outubro de 2012

PEDACINHOS DE AMOR



De quando em vez
Com alguma frequência
A minha filha faz-me corações.
Corações de cartão.
Pega num cartão velhote
Cores, muitas cores
Tesoura...
Desenha uns olhos
Um nariz
E uma boca sorridente.
Os corações da minha filha
São sempre corações felizes.
Felizes e coloridos.
Escusado será dizer-vos
que já tenho uma valiosa colecção de corações.
Pedacinhos de Amor.
Sempre que me oferece um
É um pedaço de Amor que me dá.
Vou contar-vos um segredo:
Quando que se aproxima a época natalicia
É isso que peço ao Menino Jesus.
Que na minha meia não falte um pedaço de Amor.
É tudo o que preciso
para sentir a magia...
Não é isso afinal o Natal?
Obrigada minha querida
Por todos os teus corações
Sorridentes e coloridos.
Sabes uma coisa?
Um dia vou construir um Castelo.
Não de pedras...
Mas de pedacinhos de Amor.
Cristina Vaz

sexta-feira, 19 de outubro de 2012


SOLDADINHO DE CHUMBO



Pequeno soldadinho de chumbo
Num barco de papel
Comandado por um exército louco
Que me manda para mar alto
Pequena marioneta
Num mundo de fantoches
Pierrot a quem a lágrima já secou
Cinderela sem sapato de cristal
Nem Fada Madrinha que me ajude
Personagem secundária
Numa peça sem guião
Assim me sinto
Quando o meu sentir
Sinto que não basta
Quando pequena sou
Perdida vou
Quando tento gritar
Mas a voz é fraca
E o destinatário é surdo.
Quando procuro a luz
E já não existe o Túnel.
Cristina Vaz
 
 
AQUI
 
 




Aqui me encontro
Neste espaço que é só meu
Onde ninguém entra
Onde me encontro comigo
Me reencontro com o meu ser mais profundo.
Aqui não existe tempo.
Não existe medo.
O frio não entra.
O medo não mora.
A solidão não existe.
Aqui sossego o coração agitado
Do dia-a-dia
Esqueço o mundo lá fora.
Aqui não se ouvem gritos
Não caiem lágrimas
Nada mais importa...
A não ser as cores da vida
O Sol que me aquece a alma
Aqui acredito no Amor
Enquanto força que move o mundo
Enquanto sentimento uno
Que faz os dias valerem a pena
Aqui sou feliz...
E só entra quem tiver a chave do meu coração.
Cristina Vaz

AGORA



Dou por mim a pensar
no dia em que o meu corpo se cansar
Em que irei desistir e o coração deixará de bater.
É inevitável eu sei...
Mas como farei depois para beijar os meus filhos?
Para lhes dizer que os amo?
Para os tentar proteger?
Isso atormenta-me.
Mais que tudo na vida.
Mais que a dor fisica.
Mais que a própria morte.
É por isso que sinto...
Sinto que é importante dizer
Fazer com que os que amamos
Percebam
Que são Queridos
Protegidos
Sentirem que fazem parte de nós
E que um dia apenas uma parte deixará de estar
Fisicamente presente
Ficará sempre algo neles de nós
Um beijo
Um abraço
Uma memória
Tatuada na alma
Pinceladas na eternidade
Cristina Vaz

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

 

 
Acredito que o amanhã tem futuro.
Mesmo que o presente seja desanimador
Mesmo que pareça não haver saida
Mesmo que tenha medo e sinta dor.
Acredito que depois de um dia cinzento
E frio
Vem sempre um dia sereno.
Quente e tranquilo.
Acredito que as doenças
que por vezes aparecem
Apenas nos fortalecem
Acredito também na nossa espécie
Humanos, sensíveis
Generosos
Bondosos.
Sei que existe o reverso de tudo isto
Mas apesar disso acredito
E por acreditar percebi
Que este meu sentir
Só pode ser algo maior
Algo que me mantém de pé
Algo a que os entendidos chamam
FÉ.
Cristina Vaz
 
 
 
 
(DES)ENCONTROS
 



Não é a vida um devir alucinante?
Surpreendente?
Constantemente Inconstante?
Porque será que alguém surge no nosso caminho
De mansinho
Sorrateiramente
E de repente mora no nosso coração?
Fado?
Destino?
Acaso?
Será?
Será que dois seres se cruzam apenas porque sim?
Conspirará o Universo
para que possiveis almas gémeas se cruzem
Nesta vida?
Não faço ideia.
Sei que por cada encontro
Milhentos desencontros se proporcionam.
Bom acreditar que vale a pena.
Que estamos no trilho certo.
Que encontramos quem era suposto.
Que este novo amigo
Irá fazer sentido
Irá ser uma aventura
Fundamental no nosso livro
Que acrescentará valor na nossa história.

E os desencontros?
Apenas isso.
Encontros que não aconteceram
Futuros perdidos.
Presentes que passaram.
Algum dia saberemos?
Talvez com o decorrer da história
Com o contabilizar de sorrisos
E de lágrimas perdidas.
Talvez.
Cristina Vaz

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

 
PRIMEIRO DIA DE ESCOLA
 
 
 




Meu amor:
Este é um dia que me enche de orgulho e emoção.
Estás a crescer filho. Estás a deixar de ser o “meu” bebé, a criar as tuas asas, e isso é bom. É tão bom ter o mundo nas mãos filho. E ele ai está para ti. Agora vais iniciar uma etapa, vais subir um degrau numa escada que te levará lá, onde tu mais desejarás.
A mãe vai estar sempre aqui. Para te dizer o quanto te amo (mais que muito, mais do que o universo, tu sabes!), para te apoiar, para te dizer que sim, que sabes, que consegues, para não teres medo de nada, para te dizer que vais sempre ser o que de mais importante existe na minha vida e para te dizer que independentemente das tuas escolhas (que serão só tuas) irei sempre apoiar-te incondicionalmente.
És um menino meigo, sensível e inteligente. Não deixas a mãe matar uma aranha porque é da natureza, porque merece viver. E é verdade.
És um irmão mais velho que te preocupas, que vais dar um brinquedo teu à mana porque não gostas que ela chore, porque sabes partilhar e porque acima de tudo gostas muito da tua irmã.
És um filho que diz que não queres que os pais morram nunca, nunca! (e nunca iremos morrer meu amor, seremos eternos e universais, aqui e agora).
És um menino também inseguro, que tem medo de falhar, porque queres que tudo esteja perfeito, porque tens medo de decepcionar.
Gostava que soubesses, que mesmo que um dia falhes, mesmo que não faças um desenho menos bem, mesmo que ainda não saibas fazer seja o que for, o importante é nunca desistires e acima de tudo acreditares em ti. Eu acredito em ti!
Aprender faz parte da vida meu amor, e saber fazer uma coisa de cada vez, subir um degrau da “escada” de cada vez, é o que realmente importa.
Mas tu ainda és um menino. O meu menino, que vai para “outra” escola.
Vai ser uma descoberta, vai ser uma experiência nova e vais ver que vais adorar.
Agora é tempo de guardares numa gaveta da tua memória, este tempo que aqui passaste.
É tempo de alegria e é tempo de cresceres!!!
Gosto muito de ti, Alexandre.
Tanto.
Cristina Vaz
NÃO PARTAS NUNCA MAIS
 
 


Quem cativou quem?
Ainda não percebi bem.
Mas que importa?
Importa sim
Este meu sentir
Este colo onde me deito
Onde descanso
Mesmo que imaginário.
Este abraço sentido
Que me conforta
Me dá alento
Mesmo que não fisicamente.
Encontrei em ti
O meu porto de abrigo
O meu refúgio
O meu jardim proibido.
Assim que te encontrei
Percebi a falta que me fazias
Apenas não o sabia
Bom sentir-me assim
Envolta num sentimento puro
Cristalino
Quase que angelical.
Assim me sinto
Solidão partilhada
Entre um oceano de gente
que me rodeia
Gente cheia de palavras ocas
Vidas vazias
Contigo percebi
o que é empatia
Amizade
Criar laços
Com medo sim
Não vou mentir
Quem ama tem medo
Medo que um dia vás embora
Como chegaste
De forma inesperada
Mas agora sinto
Sinto-me cativada!
Cristina Vaz